O OUVIR HISTÓRIAS PODE ESTIMULAR...
Fanny Abramovich.
O desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatralizar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer de um texto!
No principio não era o verbo? Então... E o mesmo as crianças maiores, que já sabem ler, também podem sentir grande prazer no ouvir... Afinal, não ouvem discos, não escutam rádio (sem nenhuma imagem)?! Alga Marina Elizagaray, lembra: “Não deveríamos esquecer nunca que o destino da narração de contos é o de ensinar a criança a escutar, a pensar e a ver com os olhos da imaginação.”
A narração é um antiguíssimo costume popular que podemos resgatar da noite dos séculos, mas é importante lembrar que a “narração é sempre auditiva e não visual.” Quando a criança sabe ler é diferente sua relação com as histórias; porém, continua sendo enorme prazer ouvi-las.
Ouvir histórias é viver um momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos melhores...
É encantamento, maravilhamento, sedução... O livro da criança que ainda não lê é a história contada. E ela é (ou pode ser) ampliadora de referenciais, poetura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada, suspense a ser resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas, lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que uma boa história provoca... (desde que seja boa).
Uma das atividades mais fundantes, mais significativas, mais abrangentes e suscitadoras dentre tantas outras é a que decorre do ouvir uma boa história, quando bem contada.
CONTAR HISTÓRIAS, LER HISTÓRIAS... CONSTRUIR MUNDOS
Joana Cavalcanti
[...] O leitor infantil pode ser muito facilmente envolvido pelo momento da “contação”, desde que o processo seja bem conduzido.
A melhor técnica para narrar histórias de maneira sedutora, prazerosa e envolvente para crianças é, em primeiro lugar ser um contador absolutamente apaixonado pelo mundo do “faz-de-conta”. Estar envolvido afetivamente com a narrativa é ponto fundamental. A história tem que ser narrada com paixão, sentimento, entrega, partilha.
Sem dúvida, existem algumas maneiras de fazer do momento da leitura um espaço de prazer, troca, dinamismo, entrega, descoberta e reflexão.
CONTAR HISTÓRIA COM O LIVRO | CONTAR HISTÓRIA SEM O LIVRO |
Conhecer o texto com profundidade | Conhecer o texto com profundidade |
Sensibilizar o grupo para o momento de escuta | Sensibilizar o grupo para o momento de escuta |
Criar “ambiência”, convidando para entrar no mundo do “faz-de-conta”. | Criar “ambiência”, convidando para entrar no mundo do “faz-de-conta”. |
Depois de estabelecida a confiança e intimidade, iniciar a contação. | Depois de estabelecida a confiança e intimidade, iniciar a contação. |
A história não é pretexto, ela é o texto. | A história não é pretexto, ela é o texto. |
O livro deve ser apresentado ao grupo. Dizer o título, autor, editora. Mostrar a capa. | A voz deve ser bem empostada. |
Segurar o livro aberto sobre as mãos, com cuidado e carinho, denotando respeito (relação com o universo sagrado da palavra). | Procurar teatralizar por meio da voz (ritmo, timbre, pausas, sonoridade). |
Ler, pausadamente, mas demonstrando intimidade com o texto e entusiasmo pela leitura. | Teatralizar por meio de movimentos (mãos, face). |
Pontuar corretamente, prestando atenção no tom, ritmo, volume. | Os movimentos devem ter intensidade, mas nunca impulsos exageradamente agressivos. |
Evitar gestos e expressões faciais exagerados, como recursos de narração. Por isso quando se lê a história, a carga de tensão deve estar contida na própria relação das palavras, frases. | Usar a criatividade para dar “vida” ás personagens. Ser absolutamente espontâneo. |
A cada página virada, deve-se mostrar aos ouvintes as imagens (ilustrações/desenhos/palavras) | Ir adaptando a “interpretação do texto” de acordo com o que se percebe no grupo. Exemplo: se nas partes mais tensas da história, os ouvintes apresentarem expressões muito angustiadas, então o contador deve aliviar o nível de tensão, sem perder o nível de intensidade. |
Relacionar o dito oral com o dito escrito. | Não se perder do texto, “inventando” situações que não pertencem á história. |
Durante a leitura, procurar não interromper a narrativa. | Agir com naturalidade e repassar emoção são fatores de sucesso no momento da contação. |
Ler com entusiasmo e atenção, mas não esquecer que a leitura está sendo realizada para outros, portanto é necessário que, entre um parágrafo e outro, o contador dirija o olhar para o grupo, perceba o movimento, o nível de tensão, a atenção. Que seja um momento compartilhado. | O contador de história é alguém que deve ter capacidade de interpretação, como também de provocar o imaginário do ouvinte. É, portanto um “autor”. Alguém capaz de usar a persona sem perder o contato, o olhar, a ternura, o encanto próprio ao fabulador. |
Ficar sensível as relações dos ouvintes. No final, fechar o livro com respeito e permitir que os ouvintes expressem seus sentimentos com relação aos diversos aspectos do texto. | Ao final da narração utilizar-se da tradição popular que em geral conclui as narrativas, como: “entrou por uma perna de pinto, saiu por uma perna de pato, seu rei mandou dizer que você contasse quatro...” ou “na ladeira do escorrega...”. |
REFERÊNCIAS: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 4. Ed. São Paulo: 1994 AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? 6. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. CAVALCANTI, Joana. Caminhos da Literatura infantil e juvenil: dinâmicas e vivências na ação pedagógica. São Paulo: Paulus, 2002. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria-análise-didática. 7. Ed. Ver. São Paulo: moderna, 1991. COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário: narrativa infantil e juvenil atual. São Paulo: Global, 2003. LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 10.ed.São Paulo; brasiliense, 1989. LAJOLO, Marisa. Literatura infantil brasileira: história & histórias. SILVA, Maria Betty Coelho. Contar histórias: uma arte sem idade. 10. Ed. São Paulo: Ática, 2004. |
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